A Linguagem do Tarot

Artigo publicado na Revista FAE nº 24 Maio 2025

A Linguagem do Tarot
A Linguagem do Tarot

A Linguagem do Tarot: Por que Calma não é Paciência, e Sucesso tem Muitas Facetas

A leitura do Tarot vai muito além de associar uma carta a um significado genérico. Cada carta é um universo simbólico próprio, um espelho de arquétipos que conversam com a alma humana através da linguagem do inconsciente. E como toda linguagem, o Tarot exige precisão. Não é exagero afirmar que cada substantivo e cada verbo carrega em si uma frequência energética distinta — e é exatamente por isso que as cartas não são intercambiáveis, nem suas mensagens devem ser tratadas como sinônimos em uma lista de palavras-chave.

Se tudo fosse a mesma coisa, o Tarot não teria 78 cartas. Bastaria uma dúzia para representar os conceitos “bons”, outra para os “difíceis” e o resto se diluiria. Mas não é assim que a vida funciona, nem que o Tarot foi construído. Cada carta representa uma qualidade específica da experiência humana — às vezes tênue, às vezes intensa, mas sempre única. O Tarot é, em sua essência, um vocabulário de arquétipos. E como qualquer vocabulário, ele pede que a gente saiba nomear com exatidão aquilo que está sendo revelado.

Substantivos com energia própria: o caso de Calma e Paciência

Vamos começar por dois termos que, na linguagem cotidiana, muitas vezes se confundem: calma e paciência. No entanto, quando mergulhamos na linguagem simbólica do Tarot, percebemos que são qualidades diferentes, com motivações e manifestações distintas.

Calma é o domínio do impulso. É a habilidade de respirar fundo diante do caos, de manter o centro mesmo quando tudo ao redor está em movimento. No Tarot, essa energia é muito bem representada por A Força — a figura que doma o leão não com brutalidade, mas com gentileza. A calma aqui é ativa, consciente, poderosa. Ela exige confiança interior.

Paciência, por outro lado, é o exercício do tempo. Não é apenas conter-se, mas compreender que há processos que não podem ser acelerados. O Eremita caminha sozinho, com sua lanterna, em busca de sabedoria. Ele não tem pressa. Já A Temperança mistura as águas com precisão, criando equilíbrio e transição. Paciência é maturidade, é saber que há um ciclo em curso e que ele precisa ser respeitado.

Ambas são virtudes, mas apontam para estados distintos da alma e, portanto, pedem cartas diferentes. Tratar as duas como sinônimos seria empobrecer a riqueza simbólica do Tarot.

Sucesso: muitos nomes, muitos caminhos

Outro termo que frequentemente vemos nas leituras é o “sucesso”. Mas o que é sucesso? Depende do ponto de vista, do momento de vida e da energia envolvida. No Tarot, várias cartas podem indicar sucesso, mas cada uma representa um tipo de sucesso diferente:

O Carro: Sucesso através da conquista. Aqui vemos uma vitória obtida com esforço, coragem, direcionamento. É o arquétipo do herói que domina as rédeas dos opostos e avança.
* O Sol: Sucesso como plenitude, clareza e celebração. Não há luta aqui, mas sim alegria compartilhada, vitalidade e reconhecimento. É o sucesso da autenticidade.
* A Estrela: Sucesso espiritual. Uma carta de cura, esperança e renovação. Ela fala de estar em sintonia com o fluxo do universo, mesmo após períodos de escuridão.
* A Imperatriz: Sucesso como abundância e criação. É a colheita, o florescer, o dar forma ao que foi semeado com amor. Sucesso que nutre.
* O Imperador: Sucesso na forma de estrutura, domínio e responsabilidade. É o arquétipo da ordem, da liderança, do sustento. Aqui, sucesso é estabilidade.

Repare como usar a palavra “sucesso” para todas essas cartas seria como dizer que todas as árvores são iguais só porque são verdes. O solo de onde crescem, o fruto que dão, o clima que pedem — tudo isso muda. O mesmo ocorre com os arcanos.

Verbos e ações: energia em movimento

E se os substantivos falam do “quê”, os verbos falam do “como”. Em uma leitura, o verbo que acompanha uma carta é como uma lente que direciona sua interpretação. E mais uma vez, escolher qualquer verbo aleatoriamente pode distorcer a mensagem.
Vamos ver alguns exemplos:

Esperar: pode ser O Eremita, que aguarda o momento certo para agir, ou O Enforcado, que se entrega à pausa para enxergar a vida de outro ponto de vista. Mas também pode ser A Temperança, que equilibra os tempos.
Agir: pode ser O Mago, com sua iniciativa criativa, ou O Carro, que representa a ação firme e determinada.
* Render-se: é a entrega do Enforcado, mas também o desapego de A Morte ou a humildade de O Julgamento.
* Proteger: evoca O Imperador, com suas estruturas e fronteiras, mas também O Papa, que guia e acolhe.

Perceba como a ação transforma a carta — e como a carta também revela o tipo de ação envolvida. Verbo e arcano precisam dançar juntos em harmonia para que a leitura seja clara, profunda e útil.

Tarólogo é também tradutor

Quando alguém abre o Tarot para si ou para outra pessoa, está pedindo uma tradução do invisível. O papel do tarólogo não é simplesmente apontar cartas e repetir significados genéricos, mas ler as entrelinhas do destino, traduzindo imagens em palavras que ressoem no coração de quem ouve.
E para isso, é preciso cuidar da linguagem. Saber distinguir entre “estar parado” e “estar em pausa”, entre “mover-se” e “ser movido”, entre “ver” e “enxergar”. Cada escolha de palavra abre um caminho — ou fecha uma porta.

Nomear é um ato sagrado! Use os verbos com sabedoria!

Na tradição esotérica, nomear é um ato mágico. É por isso que nas práticas antigas se guardavam os nomes verdadeiros em segredo — porque o nome carrega o poder de revelar a essência. No Tarot, acontece o mesmo. Quando escolhemos com precisão os substantivos e verbos para associar às cartas, estamos invocando a essência do arcano de forma clara, direta e poderosa.

Portanto, da próxima vez que você tirar uma carta e quiser nomear sua mensagem, pare e se pergunte: Qual palavra realmente cabe aqui?Estou diante da calma ou da paciência?Do sucesso ou da realização?Do agir ou do permitir?

Essa reflexão é o que diferencia uma leitura rasa de uma leitura transformadora.

O Tarot não fala com pressa, nem em slogans. Ele fala em símbolos — e os símbolos merecem ser traduzidos com cuidado, com reverência, com intenção.

Por Ricco Valdéz para a Revista FAE (Federação das Artes Esotéricas – edição nº 22 Mar 2025)
Edição para ler em formato Flipbook https://online.fliphtml5.com/zxwwm/cnor/

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